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A POLÍCIA, A MORAL, A ÉTICA E OS POLÍTICOS - Por Ivonete Gomes

Terça-feira, 10 Maio de 2011 - 14:43 | Ivonete Gomes


Uma segunda manifestação para anular os efeitos da primeira deixou o questionamento sobre quais resultados práticos conquistaram os policiais militares, além de um jornalista hospitalizado, um promotor público humilhado e uma sociedade antipatizada com uma causa.

Policiais sem farda, armados em frente aos batalhões prontos para um confronto com companheiros que não aderiram ao movimento, tiros para o alto, intolerância a opiniões divergentes dentro do grupo e intolerância a opiniões dos civis, que outrora apoiavam a luta da classe por melhores salários, formaram um conjunto de cenas dantescas de total descontrole emocional, de falta de estratégia e de discernimento para separar o joio do trigo.



Perderam os militares que certamente serão punidos pelos excessos e perdeu a sociedade que terá nas ruas profissionais mal remunerados e insatisfeitos. Mas, no caos sempre há lucro para os plantonistas da oportunidade e neste caso os louros são novamente de parte da classe política representativa.

Especialistas na aplicação do conceito de que massa de manobra é gerada a partir do “que se quer ouvir”, parlamentares firmaram compromissos que, à luz do direito, jamais serão honrados. Com a certeza dos gordos salários no bolso ao final de cada mês, utilizaram o movimento dos praças para mandar recados a adversários políticos – ou adversários dos negócios – despejaram fúria que não se vê em sessões plenárias e fizeram incitações sem  mea culpa que lhes cabia.

O senador Valdir Raupp (PMDB) e o deputado Mauro Nazif (PSB) prometeram projeto de anistia que certamente será barrado na primeira análise das comissões de Constituição e Justiça do Congresso. Passada a euforia, ambos ainda podem ter sucesso, mas com a solicitação de mudança do Código Penal Militar, elaborado em 1969 e tido atualmente como herança do regime ditatorial, uma mancha na história brasileira.

Igual correção não cabe ao presidente da Assembléia Legislativa, Valter Araújo (PTB), que enviou textos à imprensa vangloriando-se de ser uma espécie de salvador da pátria. Resta saber salvador de quê, já que a categoria não conquistou pleitos além dos reajustes garantidos na primeira paralisação.

Uma leitura dos acontecimentos que acabaram por entrelaçar polícia e política nos remete a análise da expressão célere de Maquiavel extraída da obra O Príncipe (1513): “os fins justificam os meios”.  Colocada no contexto atual, a expressão pode ser utilizada de forma errada quando não há diferenciação de moral, política e ética.

Começo a distinção a partir de comentário enviado por internauta e participante assídua do Rondoniagora, Ana Silvia, compartilhando a opinião do colega de farda Marcos Teixeira:

- “Para alguns muitos ignorantes, a policia militar é sinônimo de força e moralidade”.

Vê-se aí o conceito de moral, que embora lançado de forma equivocada traz à tona o pensamento de quem faz parte da corporação, pois bem dizia o filósofo Vásquez (1969), moral é  "um conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente (costumes), que regulam o comportamento individual dos homens". Frise-se o conceito de IN-DI-VI-DU-A-LI-DA-DE, inerente a todo ser humano seja ele policial, jornalista, professor ou médico. Todos nutrem em si o desejo de dignidade e uma vida melhor. Paralelo caminha a ética, que nada mais é que o conjunto de regras de aplicação da moral, assim como a hermenêutica é para a interpretação.

Por último temos a política que deveria seguir com moral e ética para alcançar a coletividade. Para Antônio Ozaí da Silva,  doutor em sociologia, “o ‘realismo político’, ou seja, a busca de resultados a qualquer preço, subtrai os atos políticos à qualquer avaliação moral, entendendo esta como restrita à vida privada, dissociando o indivíduo do coletivo.” Na obra Ética na Política? o sociólogo e professor também avalia que “embora a moral se manifeste pelo comportamento do indivíduo, ela expressa uma exigência da sociedade”.

Trocando em miúdos, entende-se que a classe policial militar merece maior valorização e que vive a terrível angustia de não ter amparo, inclusive legal, nas reivindicações. Mas neste movimento paredista sobrou moral e faltou ética. Infelizmente, neste caso Maquiavel estaria errado, porque os meios não justificaram os fins.  

Concluo a Caleidoscópio extraindo mais um trecho da magnífica obra de Ozaí:

“...Aliás, determinados casos políticos onde se alardeia a exigência da ética, nada tem a ver com esta: são, em suma, meros casos de polícia.”

 

 

Opinião do internauta policial militar

Caros internautas, abro espaço na coluna para a opinião de um policial militar.

 

A Polícia Militar é uma das várias instituições que o estado governa, porém...

... para ser um policial é preciso saber que você deverá renunciar à sua família, à amigos e, por muitas vezes ao seus próprios companheiros de farda, esquecendo-se de você mesmo, renunciando dos seus próprios sonhos.

Para ser um policial militar é preciso entender que, durante 30 anos de serviço ativo você poderá nem sequer chegar a completar o 1º ano. Que para os 29 anos restantes, seus familiares certamente o homenagearão pelo seu dever cumprido enquanto esteve vivo, porém, aos seus companheiros de farda será tratado para muitos como uma lembrança de um bom companheiro e como um excelente policial. Para outros, será rapidamente esquecido ou terá o seu nome lembrado em cursos de formação policial como um exemplo a não ser seguido, como não cometer certos erros que o levem à morte. O pior é ser usado como motivo de desabafo por pessoas que dizem: “burro, imbecil, tem é que morrer mesmo, quem mandou ser policial”, sendo estas pessoas que, ao se depararem com algum perigo, ao simples três toques de teclado de telefone (190) chamam a Polícia Militar e fogem do local sem sequer servir como testemunhas dos fatos, de suas próprias ocorrências.

Quando o Estado, seja ele qual for, lança um edital de concurso público para policial militar, uma grande parcela da sociedade “corre contra o tempo”, no intuito de se preparar para o concurso lançado, em busca de um salário mensal, em busca de uma aposentadoria.

Para quem não tem nada certo, para quem está precisando de um emprego no governo, parece ser a profissão ideal, no entanto, após alguns anos de serviço o policial percebe que seu salário pode melhorar, pois em suas folgas tem que responder a processos disciplinar, abuso, tortura, entre outras acusações. Esses são os casos mais comuns quando o policial, por algum motivo, erra em um procedimento durante uma ocorrência. Uma ocorrência mal sucedida pode fazer com que o policial ao 30º ano de serviço, venha a “perder” sua farda, venha a ser excluído da Polícia Miliar, não servindo de nada os excelentes anos anteriores de prestação de serviço à sociedade como um todo.

Já a aposentadoria, este é um sonho distante. Quando comparamos um administrador de qualquer setor do governo ao policial militar, é percebido que os policiais militares são “guerreiros”, pois enquanto qualquer da sociedade corre no sentido contrário a uma confusão, o policial corre ao encontro dela.

É fato, qualquer um que “vista essa farda” tem que entender que é uma profissão contínua, ou seja, nunca deixará de ser policial militar, nem depois de aposentado. Uma profissão que te deixa de serviço 24 horas por dia, mesmo no conforto do lar. Por isso, muitos morrem em defesa de outros, tomando atitudes isoladas, como um piloto automático adquirido aos longos anos de profissão.

É fato também que, tendo em vista o grande perigo que corre todos os dias, o policial é sabedor que ao partir de casa para o trabalho, ele pode simplesmente não mais voltar com vida para a família que o espera.

 Em verdade eu vos digo, é muito fácil criticar qualquer ato de policiais, o difícil é saber o que ele passa na rua, em defesa de pessoas que não o conhecem, em defesa de pessoas que o criticam diuturnamente, em defesa de pessoas que já investiram contra eles mesmos.

Aos poucos, os policiais militares vão se descobrindo na profissão, uns saem assim que podem, por perceberem que não era o que imaginavam, outros decidem ficar por amor à profissão, pois eu vos pergunto: há prova de amor maior do que você entregar sua própria vida em troca de outra que você nem conhece? Pensem bem!

Será que é exagero querer um conforto melhor para a família que o espera com vida. Se os policiais defendem a quem não conhecem, e somos gratos por isso, por nossa segurança, porque eles não podem ter o reconhecimento em forma de conforto para sua família.

Bem, cabe ressaltar, 190 é o telefone da Polícia Militar, pronta para ser vir e proteger, independente de quem seja o solicitante.

À polícia militar, meus parabéns pelos serviços prestados à sociedade, de forma geral, vocês também são vistos por Deus.

Não estou fazendo apologia a nada que crie ou gere intrigas e discursões entre a polícia militar e sociedade, mas sim, quero apenas abrir os olhos de quem não consegue enxergar o que fazemos por todos aqueles que nos solicitam.

Autor: SD PM SISLEY (Extrema-RO)

 

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