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Flávia Albaine

Violência Política de Gênero: Quando falar é um ato de coragem

Segunda-feira, 07 Julho de 2025 - 15:33 | Flávia Albaine


Violência Política de Gênero: Quando falar é um ato de coragem

"Vai lavar louça!", "Lugar de mulher não é na política", "Feminazi!". Essas frases podem parecer "somente" ofensas, mas são exemplos de violência política de gênero - uma forma de agressão que visa silenciar mulheres que ousam expressar suas opiniões políticas ou ocupar espaços de poder. 

Esta violência acontece quando mulheres são atacadas, ameaçadas ou discriminadas não pelo que dizem, mas pelo simples fato de serem mulheres falando sobre política. É uma tentativa de nos empurrar de volta ao silêncio, de nos fazer acreditar que nosso lugar não é nos debates que decidem o futuro do país e das instituições.  

A violência política de gênero se manifesta de diversas formas no nosso dia a dia. Nas redes sociais, mulheres que comentam sobre política recebem mensagens com ameaças de estupro e morte, têm suas fotos alteradas de forma pornográfica, ou são atacadas por sua aparência física ao invés de suas ideias. No trabalho, podem ser ignoradas em reuniões, ter suas competências questionadas ou sofrer assédio quando assumem posições de liderança. Em casa, algumas enfrentam pressão de familiares para "não se meter em política". 

Candidatas e políticas eleitas vivem situações ainda mais extremas: invasão de privacidade, divulgação de informações pessoais, ameaças às suas famílias e até agressões físicas. 

Mulheres que ocupam cargos políticos enfrentam uma violência ainda mais intensa e sistemática. Vereadoras relatam ter suas propostas ridicularizadas com comentários como "está de TPM?" ou "deve estar precisando de homem". Deputadas são interrompidas constantemente durante discursos, têm seus microfones cortados sem justificativa, ou são chamadas pelos colegas de "histéricas" quando defendem seus projetos. Prefeitas e governadoras sofrem ataques que misturam machismo e misoginia: são questionadas sobre quem cuida dos filhos enquanto trabalham, têm sua capacidade de liderança associada à aparência física, e enfrentam boicotes organizados às suas gestões. Nos plenários e câmaras, é comum ouvirem que "deveriam estar em casa" ou que "não entendem de política". Essas mulheres também são alvos preferenciais de fake news que distorcem suas falas e decisões, criando campanhas de ódio coordenadas que põem em risco sua segurança e de suas famílias.

As consequências dessa violência vão muito além das vítimas diretas. Quando mulheres são silenciadas, perdemos metade das vozes que poderiam contribuir para resolver os problemas do país. Nossas filhas crescem achando que política "não é coisa de mulher". A democracia fica mais fraca quando exclui a perspectiva feminina das decisões. Além disso, essa violência reforça desigualdades em todas as áreas da sociedade, mantendo estruturas de poder que prejudicam não só as mulheres, mas toda a população que depende de políticas públicas mais inclusivas e representativas. 

Toda mulher tem o direito constitucional de participar da vida política sem sofrer violência. Se você está passando por isso, saiba que não está sozinha e que existem caminhos para buscar ajuda. Documente as agressões (prints, gravações, testemunhas) e denuncie. Procure ajuda de instituições como a Defensoria Pública e organizações especializadas nos direitos das mulheres. A depender do caso, a violência política de gênero pode configurar um ilícito civil ensejador de reparações por danos morais, ou até mesmo um crime. A política precisa das mulheres, e nós merecemos estar nelas com segurança e dignidade.

* Flávia Albaine Farias da Costa. Defensora Pública do Estado de RO. Mestra em Direitos Humanos. Especialista nos Direitos das Pessoas com Deficiência. Integrante da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da ANADEP.

Instagram: @flaviaalbaine

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