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A nova face das fake news: quando a desinformação vira espetáculo digital
Em tempos de viralização, histórias reais expõem o preço da mentira e o limite entre liberdade e responsabilidade
Sexta-feira, 24 Outubro de 2025 - 15:05 | Por Ingrid Valerie
Em uma geração moldada pelas telas, as fake news deixaram de ser manchetes tendenciosas e se transformaram em encenações digitais criadas para viralizar. A desinformação ganhou corpo e voz. Quando lançada na internet, espalha-se com velocidade algorítmica.

Quando uma bomba falsa deixou o aeroporto de Porto Velho fechado por quatro horas, o objetivo não era causar pânico, era viralizar. O influenciador por trás da “brincadeira” queria engajamento. Conseguiu. O caso, que mobilizou a Polícia Federal e interrompeu voos, revelou mais do que um falso explosivo: mostrou como a desinformação se alimenta do espetáculo e da pressa em compartilhar antes de pensar.

O episódio escancarou a tendência da mentira performática, em que a busca por engajamento se sobrepõe ao bom senso e à responsabilidade cívica. Durante a audiência, a Justiça libertou o autor, classificando o ato como “brincadeira de mau gosto”. A decisão reacendeu o debate sobre a necessidade de leis mais firmes para lidar com crimes digitais.
Em Rondônia, outros casos ajudam a dimensionar o problema. Uma mulher foi filmada enquanto guardava o próprio tablet na bolsa e acusada de furto. Outro morador da capital teve sua imagem transformada em piada após ser filmado dormindo em frente à própria casa com a legenda: “Olha o que a cachaça faz.” A Justiça reconheceu a violação de imagem e condenou os responsáveis.
As histórias mostram como a mentira ganhou palco digital, disfarçada de humor ou de notícia. “A liberdade de expressão é um direito fundamental, mas encontra limite na dignidade humana”, lembra a advogada Andreia Godoy, que atuou em um dos casos.
Combater esse ciclo exige mais do que leis: é preciso educação digital, fortalecimento da imprensa, senso crítico e empatia. O impacto das fake news não se limita à performance, ele se estende à vida real, atingindo pessoas comuns e a segurança coletiva. Pensar antes de compartilhar é o gesto mais simples, e talvez o mais poderoso, contra a desinformação.