Geral
Laudo da PF revela falsificação em contrato e agrava escândalo da cota de gênero no PSB em Porto Velho
Domingo, 14 Dezembro de 2025 - 18:45 | Redação

Um laudo da Polícia Federal, assinado pelos peritos Gleidston Pains Pamplona e Naraiana Ribeiro Santos, revelou a falsificação de assinaturas utilizadas em contrato de campanha para assegurar a efetiva participação feminina na lista de candidatos do PSB, agravando o escândalo da falsificação da cota de gênero na legenda.
De acordo com o Laudo nº 942/2025 – SETEC/SR/PF/RO, a assinatura atribuída a Uéslei Lopes Soares em contrato apresentado pela candidata Luzia da Silva Ozorio de Oliveira (PSB) não foi produzida por ele, após exame grafotécnico minucioso que identificou divergências técnicas incontornáveis entre o padrão gráfico e a assinatura questionada.
Três “cabos eleitorais” negam contratos e trabalho de campanha
O laudo da PF se soma a um conjunto robusto de confissões. Três pessoas indicadas como cabos eleitorais/coordenadores afirmaram que nunca trabalharam nas campanhas e que desconhecem as assinaturas atribuídas a elas.
Em juízo, Uéslei Lopes Soares negou ter trabalhado na campanha de Luzia, negou a assinatura no contrato e afirmou desconhecer o documento.Alessandro Oliveira do Nascimento, em confissão extrajudicial certificada, afirmou que não trabalhou nas eleições de 2024, não assinou contrato e que a assinatura constante no documento não é sua, apontando inclusive erro grosseiro em seu sobrenome.
Hudson Carmo da Cunha Bastos também confessou que não atuou em campanha eleitoral, não firmou contrato e não reconhece a assinatura atribuída a ele.
Tiro no pé
A estratégia da defesa da candidata Luzia acabou se voltando contra a própria interessada. O advogado insistiu na realização de perícia grafotécnica no contrato apontado como fraudulento. O Juízo, então, determinou a apresentação do contrato original. A resposta foi reveladora: o documento não foi localizado.
Mesmo sem o original, a defesa insistiu na perícia com base apenas no documento digitalizado, aparentemente acreditando que Uéslei não compareceria à Polícia Federal para colher assinaturas padrão. Ocorre que Uéslei compareceu, forneceu material gráfico e a PF produziu um laudo técnico categórico, confirmando a falsidade da assinatura. Na prática, a insistência defensiva produziu a prova mais forte contra a própria candidatura.
Vínculos familiares
A investigação aponta que a fraude à cota de gênero envolveu três candidatas do PSB com votações irrisórias:
• Caroline Suarez – 2 votos
• Luzia da Silva Ozorio de Oliveira – 7 votos
• Rafaela Carolina Evangelista de Oliveira – 8 votos
Além da baixa votação, surgem fatos ainda mais comprometedores:
• Caroline Suarez não votou nela mesma, tampouco seu esposo, que constava como coordenador de sua campanha, compareceu para votar nela, segundo os autos.
• Renan Suarez, marido de Rafaela, foi contratado como cabo eleitoral de Caroline Suarez, sua prima, mas negou em depoimento que tenha exercido qualquer atividade de campanha.
• Ludmila, filha da candidata Luzia, foi contratada como coordenadora da campanha de Rafaela, apesar do vínculo familiar direto com outra candidata do mesmo partido.
• Rafaela alegou que Ludmila teria coordenado sua campanha nas redes sociais, porém não existe nos autos qualquer ato concreto de campanha digital, como postagens, impulsionamentos, materiais gráficos ou estratégias comprovadas.
Outro ponto central do processo envolve o dirigente partidário Renê Suarez, apontado como articulador do esquema. Renê é tio de Caroline Suarez e sogro de Rafaela, concentrando posição estratégica dentro do partido.
Em depoimento, Renê confessou que não votou em nenhuma das candidatas e que não fez campanha para elas. Segundo declarou, sua atuação se limitou a ajudar a formar a nominata feminina do partido e operacionalizar a transferência de recursos públicos para as candidatas. E uma boa parte desse dinheiro foi para conta do filho de Renê, o Renan, seja por meio de contrato de cabo eleitoral ou locação de veículos.
Essa confissão reforça a tese de que as candidaturas femininas não tinham viabilidade real, tendo sido utilizadas apenas para cumprir formalmente a exigência legal da cota de gênero, com campanhas simuladas e contratos fictícios e lavar o dinheiro público.
Cassações, recontagem de votos e crime eleitoral
Com o laudo da Polícia Federal, as confissões, as ligações familiares, a ausência de atos reais de campanha e o desaparecimento do contrato original, o processo entra em fase decisiva.
Caso a Justiça Eleitoral reconheça a fraude à cota de gênero, nos termos da Súmula 73 do TSE, as consequências podem incluir: cassação da nominata do PSB e retotalização dos votos. O processo está na reta final e deve ser sentenciado nos próximos dias pelo juiz Guilherme Baldan, da 6ª Zona Eleitoral de Porto Velho.