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Paulo Queiroz e os elogios desacompanhados

Quinta-feira, 10 Março de 2011 - 09:37 | RONDONIAGORA


“Não é amigo aquele que alardeia a amizade: é traficante; a amizade sente-se, não se diz".

Machado de Assis

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Por Sandra Santos

Estou, a exemplo de todos, chocada. Mas enquanto leio a noticia da morte do Paulo Queiroz, milhões de pensamentos invadem a minha mente e passo a me sentir arrasada, destruída e egoísta. Egoísta ao extremo.


Chamamos tantas pessoas de amigos. Que amigo é este que é amigo de copo, de farra, de rega bofes.

Paulo há pouco tempo, foi criticado demasiadamente por expor sua situação financeira. Por expor seu desespero.  Ninguém viu. Ninguém reparou que ali estava um homem com seu orgulho destruído, seu amor próprio no chão.
Chamamos tantas pessoas de amigos. Que amigo é este que é amigo de copo, de farra, de rega bofes.

O que faltou ao Paulo foi um amigo.  Faltou ver seu valor reconhecido. Seu trabalho ser decentemente remunerado. Elogios não pagam contas. Faltou principalmente, quem lhe acenasse, de verdade, especialmente na hora do desespero. Ninguém se expõe daquela forma sem estar se sentindo na mais profunda angústia. Foi um ato de desespero. De renúncia a qualquer orgulho. Foi um pedido de socorro. Um pedido de afeto. E nós, ficamos ali, olhando tudo, indiferentes. Do alto da nossa fria e desolada torre, como diria Vinicius.

Quando olhamos nossa vida e não conseguimos ver futuro, vem o sentimento de abandono. Deste sentimento, vem a tristeza infinita. Ela vem, não sei onde e  não vai embora.  E não adianta dizer que falta Deus na sua vida. Porque é à Ele que nos agarramos  implorando por uma força que não conseguimos mais ter.  Então, vamos caindo no mais completo abismo da solidão e da angústia. E o pior: do sentimento de total abandono.  
Não vemos futuro e o passado já começa parecer apenas uma sequência de erros.

Os tantos “amigos“ se vão. O telefone não toca mais. Ninguém gosta de gente com cara de derrotado, com tristeza no olhar, que não tenha uma grande piada para contar. Sabendo que não se é mais uma boa companhia, começa a fase do auto isolamento.

A depressão é cruel. Ela te mata aos poucos. Silenciosamente para os outros. E com muito barulho para quem a sente.

Somos tão egoístas que não conseguimos parar um instante sequer para reparar que aquele amigo, outrora alegre, vivaz, altivo, já não é mais o mesmo. Ao invés de procurar a pessoa para saber o que está acontecendo, nos afastamos.  Ocupados demais com os nossos próprios problemas e, pra falar a verdade, sem paciência com aquele chato que, agora, só sabe reclamar.

Que tipo de amigo nos tornamos. Que tipo de pessoas nos tornamos. Temos milhares de formas de comunicação, hoje em dia, e cada vez mais, nos comunicamos menos. Cada vez mais nos preocupamos menos com aqueles a quem chamamos de amigo.

Qual foi a ultima vez que você procurou aquele seu amigo que ultimamente anda tão chato, rabugento, mal humorado e péssima companhia? Pode ser que você não tenha mais tempo nem paciência para uma pessoa que mudou tanto. Experimente convidá-lo para um café, um chopp. Pois, ao nos tornamos insuportáveis para nós mesmos, é justamente, quando mais precisamos de um abraço. Daquele olhar de cumplicidade. Daquela conversa sem palavras, que lhe diz tudo o que você queria ouvir, lhe transmitindo a segurança de não estar só.

Eu também, nos últimos dias, não liguei para o Paulo, para perguntar apenas como ele estava ou convidá-lo para um café.  Nunca me senti tão egoísta, em toda minha vida, como estou me sentindo hoje. E a exemplo do Paulo, hoje, eu venho me expor, para lamentar a ligação que não fiz, o “só liguei pra saber se você esta bem“. Hoje, eu quero apenas dizer, demasiadamente tarde, que todas as suas palavras, que todos os seus elogios a mim, sempre me fizeram muito bem e muitas vezes chegaram na hora que eu me sentia tão frágil, da mesma forma como você se sentiu ao se expor de uma maneira tão corajosa e ao mesmo tempo desesperada. Tão humilde e tão pouco compreendida. 

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