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Tensão e incerteza: profissionais de saúde contam o dia a dia no auge da pandemia em Rondônia

Domingo, 19 Setembro de 2021 - 09:04 | da Redação


Tensão e incerteza: profissionais de saúde contam o dia a dia no auge da pandemia em Rondônia

No auge da pandemia do Coronavírus, profissionais de saúde atuaram incansavelmente na linha de frente para combater o vírus no Brasil e no mundo.

Com o primeiro caso da doença registrado país, no final de fevereiro de 2.020, a maioria deles nem imaginavam que estavam prestes a viver os momentos mais difíceis de suas carreiras, com um único objetivo: salvar o maior número de pessoas possíveis.

Em meio a um caos que o mundo viveu, profissionais vivenciaram diversas cenas que marcaram a tragédia causada pela Covid-19. Conheça um pouco das histórias de quatro servidores durante o caos da pandemia.

Tensão e incerteza: profissionais de saúde contam o dia a dia no auge da pandemia em Rondônia

Medo, angústia, impotência

A fisioterapeuta Elciane Martins Pinheiro, que atuou na linha de frente no Hospital Regional do município de Ariquemes e no Hospital de Campanha de Porto Velho, conta que vivenciou momentos de medo, angústia, choros, sensação de impotência. “São sentimentos que só sabe quem atuou na linha de frente, combatendo um vírus desconhecido. Era um terror ver essa doença matando tantas pessoas. Cada colega que falecia, por conta do vírus, a gente ficava com mais medo porque poderia ser qualquer um de nós”, disse.

A pandemia desgastou os profissionais com cansaço físico e mental. “Diante de tudo isso, tive início de ansiedade, não conseguia dormir e quando conseguia, sonhava que estava dentro do hospital. Mas tudo foi passando, e aos poucos nos adaptamos, e o que nos alegrava era reabilitar jovens, adultos e principalmente ver os idosos de 70, 80 e 90 anos saindo de uma intubação vivo. Isso nos deixava tão feliz”, conta Elciane.

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Alta demanda e perda de muitas vidas

A médica Evelynne Ferreira Borda, trabalhou em uma Unidade Básica de Saúde, localizada no bairro Caladinho, na zona sul de Porto Velho. Ela detalha que 2.021, foi um ano de intensas emoções, medos, receios, e muitas vezes frustações. “Lembro uma situação em que estava atendendo um paciente na unidade, onde não se tem um suporte adequado para situações de emergência. Então, estávamos em uma tarde com 24 pacientes e havia apenas dois médicos. A unidade estava cheia de pacientes. Tivemos nesse dia quatro ou cinco situações de emergência, pacientes dispneicos, dessaturando, febril, onde necessitávamos de oxigênio e tínhamos apenas três balões de O2”, relembra a médica.

Ela diz ainda, que nesse mesmo dia, foi necessário acionar uma equipe do Samu para transferir os pacientes para unidade de emergência. “Além disso, os pacientes que aguardavam consulta reclamavam da demora nos atendimentos, sendo que estávamos com esses pacientes graves. Foi uma tarde corrida, com receio que algum desses pacientes apresentasse uma parada cardiorrespiratória, e não tínhamos muito a se fazer até a ambulância chegar para o transporte. Posteriormente, soube que um desses pacientes foi a óbito. Perdi vários pacientes da minha área de cobertura para essa terrível doença”, destaca Eveynne Ferreira.

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Paciente com síndrome de down e outra que pediu o hino

Fabiola Gomes da Silva, técnica de enfermagem, também atuou incansavelmente na linha de frente na Unidade de Assistência Médica Intensiva (AMI). “Um dos momentos que me abalou muito, foi à morte de um jovem, de 23 anos, que tinha patologia síndrome de down e era obeso. Ele era como uma criança de 4 anos. Teve que ser intubado, passou poucos dias internado, não resistiu e veio a óbito. Foi um paciente que me apeguei, cuidei profissionalmente, aprendi o verdadeiro significado de cuidar e se doar a uma pessoa”, relembra Fabiola.

Outro momento marcante para a técnica de enfermagem foi a intubação de uma idosa. “Ela pediu pra ouvir um hino, e para segurar na minha mão. Durante todo o procedimento que estava sendo realizado nela, eu permaneci de mãos dadas com ela e senti a presença de Deus. Precisei ser forte, pois naquele momento a senhorinha depositou muita confiança em mim, mas infelizmente ela faleceu”, conta Fabiola Gomes.

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Idosa intubada por 30 dias na UTI saiu andando após cura

Durante o período em que autuou na linha de frente, na UTI Covid, a enfermeira Kelly Cristiane da Silva, também passou por momentos difíceis, e muitos deles de grande aflição, como os demais profissionais que lutaram com todas suas forças para salvar vidas. “Um dos momentos mais marcantes foi o caso de uma idosa que ficou mais de 30 dias na UTI, vários deles em estado gravíssimo, se recuperou e teve alta, e saiu andando, falando, reconhecendo todos os familiares e toda a equipe que ajudou na sua recuperação”.

Outro momento, vivenciado por Kelly Cristiane, e que marcou sua carreira, foi à internação de um amigo na UTI. “Ele teve uma parada cardiorrespiratória no dia do meu plantão. Fiz todos os procedimentos necessários, com as lágrimas escorrendo dos meus olhos, lutei bravamente como sempre fiz com todos os meus pacientes, mas esse tinha um histórico de amizade, e infelizmente depois de 1 hora de manobras perdemos ele para o coronavírus”, disse.

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Profissionais chorando pelos corredores

O médico Maxwendell Gomes Batista, durante o período em que as contaminações e mortes em decorrência das complicações do vírus estavam em alta, atuou como diretor técnico do CEM, da Policlínica Ana Adelaide e do Hospital de Campanha do centro. “Tive como objetivo capacitar os médicos e dar suporte nas intercorrências e procedimentos em pacientes graves. Eu trabalhei na UTI do João Paulo II, e tinha alguma vivência com isso”, explicou.

Mas, por ser um vírus desconhecido em todo o mundo, Maxwendell também se assustou com a agressividade da Covid-19. “Dos 14 anos que trabalhei em UTIs, nunca tinha vivenciado cenas tão fortes como a desse período. Na minha condição de suporte aos médicos, presenciei por diversas vezes nossos profissionais chorando pelos corredores e muita tristeza em volta. Tudo isso acontecendo enquanto nossos familiares também adoeciam e nós que atuamos na linha de frente. Parecia uma cena de guerra”, disse.

Hoje, olhando pra trás, avaliando de forma panorâmica, o médico disse que observa como foi traumático tudo isso que o mundo viveu. “Perdi alguns colegas de trabalho, que deixaram seus familiares em casa para salvar outras vidas. Difícil tirar algo positivo dessa experiência. O que aprendi com isso, foi que somos muito frágeis e que as pequenas coisas são as que fazem sentido, família e amigos. Estar vivo e com saúde para continuar é um privilégio que alguns não tiveram. Espero que essa experiência nos traga uma nova perspectiva de humanidade para nossa sociedade”, finalizou o médico Maxwendell Gomes Batista.

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