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Polícia

Caos: Pacientes relatam atendimento precário em unidades básicas de saúde de Porto Velho

Terça-feira, 05 Abril de 2016 - 18:34 | Da Redacao


Os problemas na saúde pública municipal de Porto Velho continuam. A cada dia as reclamações só crescem. Faltam médicos, medicamentos e há até recusa em atender aos pacientes que procuram ajuda, principalmente nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) nas zonas Sul e Leste. Na última semana, a Prefeitura empossou 10 médicos e disse que a crise seria amenizada. Mas não houve melhora. Tanto nas UPAs, como aas unidades de saúde básica, o caos parece ter sido instalado.

O aposentado José Alves precisou de atendimento para a filha que estava com febre alta, vômito, dor no corpo. Ao chegar na UPA Zona Sul logo foi informado que lá não iria ser atendido, mesmo sendo morador da região. “Minha filha está passando muito mal. Procurei atendimento lá, mas me mandaram procurar a Policlínica Ana Adelaide. Aí chego aqui, está muito lotada. Lá não fazem o serviço deles, aí prejudica nos outros locais. A saúde está abandonada”, diz o aposentado. A filha de José Alves demorou cerca de uma hora apenas na triagem. Só depois ela receberia o atendimento com o médico.

Situação semelhante passou o mecânico Edmilson Costa Nascimento. Ele precisou levar a sogra, em crise depressiva, na UPA Leste. Lá não foi atendido. “Nem triagem fizeram. Mandaram direto procurar outro local para atendimento. E eles estão encaminhando todo mundo pro Ana Adelaide. Lá só atendem quem já está morrendo por tiro ou faca. Aqui demorou quase três horas até ela ser atendida. Quando mediram a pressão dela, já estava em 20. Ela poderia ter morrido porque se recusaram a atendê-la”, afirma Edmilson ressaltando que chegou à policlínica às 7h30min. A reportagem conversou com ele por volta do meio-dia.

Quase desmaiando, o paciente Elias Sudade não sabia mais nem quanto tempo estava esperando. “Estou há tanto tempo aqui e ninguém me atende. Não consigo nem falar”, disse Elias enquanto ouvia que precisava aguardar para ser atendido. A supervisora de vendas, Najara Sousa também aguardava atendimento. “Eu cheguei aqui às 8 horas, ele (Elias) já estava aqui esperando e o coitado até agora não foi atendido. Isso é um descaso com todo mundo”, diz a jovem.

Médicos saíram

Segundo o secretário de saúde, Domingos Sávio, o problema tem ocorrido por causa de muitos médicos que pediram demissão, coincidentemente nas UPAs. Ele alega que a Prefeitura está atendendo a saúde praticamente sozinha, por falta de repasses do governo estadual e pela redução do repasse do governo federal. “Essas UPAs custam R$ 1,2 milhão por mês e nós recebemos do Ministério da Saúde R$ 400 mil. É impossível tocar com esse valor. O município teria que ter uma atenção básica que atenda 100% da população e hoje só consegue atender 60%. Temos muito problemas. O Governo do Estado de Rondônia também não está cumprindo sua obrigação conosco. Estamos todos na mesma situação. A quebradeira está geral”, afirma o secretário.

E a falta de atendimento da saúde familiar está deixando os pacientes por muito tempo na fila de espera, seja para marcar consultas, seja para conseguir fazer uma exame médico. A merendeira Rita Magalhães da Silva afirma que o atendimento no posto Ernande Índio - próximo a sua casa- é precário, e por isso, procura a unidade de saúde da família Hamilton Gondim. “Cansei de chegar lá às 5 horas e não conseguir nem ficha para ser atendida, sempre tem muita gente que até dorme lá”, lamenta a merendeira.

Para Francisco Oliveira está muito pior. “A gente vem aqui e nunca tem médico, não tem remédio. Falta tudo. Está péssimo!”, desabafa..

Grávida de seis meses e com um descolamento de placenta, Joilma Barbosa Almeida precisa fazer um exame para verificar a saúde do bebê, mas ainda terá que esperar até o próximo dia 12 de abril. “A situação está cada vez pior. Meu pré-natal é para gravidez de alto risco e me colocaram como normal. Foi muita enrolação. Marcaram na minha ficha que tinham me ligado e nunca recebi uma ligação. Agora, para fazer um exame e ver a saúde do meu bebê, já que tive descolamento de placenta, estou esperando desde o dia 9 de março”, reclama Joilma. Ao lado dela, estava a aposentada Maristela Ferreira que espera há dois anos uma consulta com um oftalmologista e nada até agora.

E por conta dessa falta de atendimento na saúde básica, muitas pessoas procuram atendimento nas unidades de urgência e emergência. Segundo o próprio secretário municipal de saúde, o paciente é esperto. “Ele sabe que se ele for na UPA, vai ser atendido. Pode até demorar, mas vai ser atendido, enquanto no posto de saúde precisa pegar ficha, agendar e voltar”, diz o secretário.

Sem suporte no Município

Ao RONDONIAGORA, o diretor adjunto do Hospital Infantil Cosme e Damião, Sérgio Pereira, diz que faltam políticas públicas para atendimento na saúde básica. Segundo ele, cerca de 75% dos pacientes atendidos na unidade de saúde deveriam estar amparados pela assistência básica, que é responsabilidade do município. “Nós temos nossa classificação aqui. Mas, o que é urgência para essa mãe, que vê o filho com febre, diarreia, e que deveria ser amparado pela saúde familiar, ela não encontra esse suporte, e por isso procura atendimento aqui. Nós não vamos deixá-la de atender, jamais”, garante Sérgio Pereira.

O gerente médico da unidade, Daniel Carvalho, ainda faz um apelo. “É preciso que o município contrate pediatras. Há seis meses que eles não chamam nenhum médico dessa área e isso faz lotar as unidades de urgência e emergência”, clama o Daniel.

A prefeitura, em nota divulgada na última semana, disse que está convocando mais 44 médicos para atuarem na área de saúde municipal.

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