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Casais sem filhos

Segunda-feira, 22 Junho de 2015 - 14:59 | Serafim Godinho


Casais sem filhos

A motivação desse artigo veio da leitura da  revista Veja, cuja capa tem  uma linda criança, dizendo para dois também lindos cães: OK, vocês venceram!



E a matéria nos surpreende informando: “A ultima pesquisa do IBGE mostrou que o número de cães nos lares brasileiros superou o de pequenos humanos: de cada cem famílias no país, 44 criam cachorros, enquanto só 36 têm crianças.”

Com uma maior flexibilidade e liberdade, os casais sem filhos aproveitam para investir na carreira, estudar e financiar projetos. Assim como muitas mulheres e homens gostam de dormir noites inteiras, optam por ter tempo livre e sem preocupações para viajar nos finais de semana com os amigos e estabelecem rotinas sem se preocupar com as crianças.

A história da humanidade é praticamente recente na terra. Enquanto a idade de nosso planeta beira aos cinco bilhões de anos, o aparecimento dos humanos, como somos hoje, é de pouco mais de cem mil anos.

Como o advento da agricultura é de algo em torno de dez mil anos, entende-se pelas dificuldades de se conseguir alimentos- vivíamos como coletores, de caça e pesca. Aliada à dificuldade de se conseguir alimentos, juntam-se todos os tipos de doenças que ceifavam a vida ainda nos primeiros anos de existência. Daí a população de nossa espécie ser pequena e em muitas ocasiões, com risco de ser extinta.

A partir do momento em que nos tornamos agricultores, passamos a viver em vilas e cidades, nos fixando e nos socializando. Aí a população começou a aumentar, até que chegou a um nível, à época da industrialização, na Inglaterra, em que uma cidade atingiu um milhão de habitantes, que foi Londres. Nessa época os cientistas e estudiosos começaram a se preocupar com a produção de alimentos para toda essa gente. È famosa a preocupação de Malthus que dizia que estávamos caminhando para morrermos de fome, e dizia que enquanto a produção de alimentos crescia em proporções aritméticas a de humanos em proporções geométricas. Foi o primeiro a se preocupar com o aumento demográfico. Mas o  tempo provou que a lei de Malthus não funcionou. É que a ciência e a tecnologia foram direcionadas para a agricultura, multiplicando a produção de alimentos, facilitando o aumento populacional.

Mas ainda ficaram as doenças bacterianas e viróticas, para as quais não existiam tratamento e a expectativa de vida não passava de 32 anos, para aqueles que conseguiam passar pela infância sem ser abatido pelas diversas doenças próprias da idade. Eram tantas as mortes dos pequenos que as famílias só escolhiam seus nomes depois que atingissem a idade de cinco anos, depois que vingassem.

A partir do século XX, com o  avanço da medicina, com a descoberta das vacinas da anestesia, dos antibióticos nossa expectativa de vida saltou nos últimos cem anos de 32 para 74 anos.Sem as mortes e com as famílias numerosas a população atingia níveis até então inimagináveis.Não fora as duas grandes guerras mundiais ocorridas naquele século,e a descoberta dos anticoncepcionais que proporcionou o direito de limitar os filhos, a lei do filho único na China, a política de contenção de filhos realizada na Índia com penas até de prisão do pais que tivesse mais  de 2 filhos e sobretudo às leis que proibiam o trabalho infantil, a obrigatoriedade de se colocar todos na escola, e mais recentemente as leis, facilitando a intervenção do Estado nos lares, o estatuto das crianças e adolescentes,sem tudo isso, a terra certamente seria um lugar difícil de viver .

Mas o contrário também ocorreu e ainda ocorre. Na Alemanha Nazista, Hitler estimulava aos casais terem vários filhos, para povoar a terra com os melhores, a raça Ariana, os super homens. Logo após a segunda grande guerra foi a vez dos Estados Unidos darem um salto do aumento de sua população com o estímulo do Governo. E hoje, embora todos tenham a consciência de que as famílias devem ser planejadas, a religião teima em proibir as pílulas anticoncepcionais .Por essa religiosidade é que faz dos EUA, dentre os países ricos e adiantados culturalmente, ser o que tem maior nascimentos

O Brasil ocupa, na atualidade, o quinto lugar em número de população, ficando atrás somente da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia.

O número de habitantes do Brasil é resultado de um acelerado processo de crescimento natural ou vegetativo que ocorreu a partir do século XIX e foi incrementado no transcorrer do século XX, resultado dos elevados índices de natalidade e da imigração que ocorreu no país.

O crescimento natural ou vegetativo de um país é calculado da seguinte forma: obtém-se o número de nascimentos e dele subtrai o número de mortos, ou seja, se uma cidade teve 400 nascimentos e 250 falecimentos houve crescimento, pois o primeiro superou o segundo.

Sem dúvida, o período que houve maior crescimento populacional no Brasil foi no decorrer do século XX, no início desse as condições médicas-sanitárias eram precárias e apesar do elevado número de nascimentos havia paralelamente um grande índice de falecimentos. As pessoas morriam por problemas relativamente fáceis de serem solucionados, mas esbarravam na falta de informação e de serviços médicos para o tratamento de tais doenças, muitas vezes as pessoas perdiam suas vidas sem saber que eram, por exemplo, diabéticas e que poderiam ter a vida prolongada caso fosse tratadas.

Esse contexto começou a se alterar a partir dos anos 40, que foi um momento marcado pelo surgimento de diversas vacinas e técnicas de tratamento de doenças, além disso, as pessoas tiveram maior acesso aos serviços sanitários e médicos, sendo assim, ocorreu uma melhoria na qualidade de vida das pessoas. Com a implantação de tais medidas, os índices de mortalidade diminuíram enquanto que as taxas de natalidade se elevaram, diante desses dois fatores houve um crescimento acelerado da população no país.

Se comparadas aos países industrializados, as taxas de natalidade brasileiras permanecem altas, entretanto, houve uma diminuição desse crescimento, principalmente nas últimas décadas. Essa alteração populacional foi proveniente do processo de urbanização que se desenvolveu durante os anos 40, no ano de 1970 a população urbana era maior que a rural, fato até então nunca detectado no país.

Com a nova realidade urbana da população, algumas mudanças de ordem social, econômica e cultural aconteceram, essas resultaram na queda do número de filhos por família. Além desses, outros fatores também contribuíram para a queda do crescimento populacional do país, entre eles estão:

Redução do trabalho familiar: essa era uma prática comum no meio rural, consistia em ter muitos filhos para exercer atividades nas propriedades rurais, assim a família não precisava pagar um trabalhador assalariado. Com a urbanização essa característica foi sendo substituída, pois a vida nas cidades exigia maiores gastos.

Queda no número de casamento precoce: a realidade rural promovia o casamento entre pessoas muito jovens, já nos centros urbanos as pessoas contraem matrimônio com idades mais elevadas e tendem a ter poucos filhos.

Custos com filhos: oferecer uma boa qualidade de vida e educação a um filho no contexto urbano requer elevados gastos financeiros (educação, saúde, alimentação adequada entre outros), devido a esse fator os pais começaram a planejar mais o número de filhos a serem concebidos, adequando-o ao orçamento familiar. A vida no campo não exigia grandes gastos por não haver preocupação com educação, transporte e outros. De acordo com o estudo, criar um filho custa entre R$ 2 milhões (classe A) e R$ 407 mil (classe C), desde o primeiro choro fora da barriga da mãe até a sua formação universitária, uma família de classe média, com renda mensal de R$ 5 mil, gasta cerca de R$ 750 por mês na criação de um filho. 

Maior presença das leis - Até a década de 60 no interior dos Estados a lei que prevalecia era a de vinganças, o que era um incentivo para se ter uma grande família principalmente com muitos filhos homens. Caso contrário era chamado de “defunto sem choro”

Criação de leis de proteção às crianças e adolescentes: os filhos perderam o temor aos pais o que dificultou o relacionamento familiar. Na França, há alguns anos, um rapaz cujo pai lhe solicitou que não dormisse com sua namorada em casa, pois sua mãe não aprovava, até porque ele tinha uma irmã mais nova e que seria um péssimo exemplo para a mesma .O rapaz entrou na justiça alegando não  ter essa liberdade e o Juiz lhe deu uma sentença favorável.O pai deveria pagar o aluguel de um apartamento e dar uma pensão ao filho, até que terminasse a faculdade . Daí para frente pai e filho só conversavam através de advogados.Depois disso os casais Franceses passaram a olhar os filhos com outros olhos e lógico, não ter filhos passou a ser uma boa opção.

Inserção no mercado de trabalho da mulher- Com a urbanização a mulher começou a contribuir com o mercado de trabalho. Com a ocupação remunerada, essa não encontrava tempo e nem recursos para ter muitos filhos, esses passaram para o segundo plano, uma vez que a prioridade era manter o emprego e ajudar na composição do orçamento familiar.

Métodos anticoncepcionais: nas cidades existe maior circulação de informações, facilitada pelos meios de comunicação e pelos próprios médicos, nesse contexto surgiram procedimentos que impediam a gestação, algo que não ocorria em áreas rurais.

Em outros países não é diferente. Japoneses hoje preferem investir na carreira a casar ou ter um relacionamento; pesquisa mostra que, no Japão, um terço das pessoas com menos de 30 anos nunca teve qualquer tipo de experiência amorosa. Taxa de natalidade em 2012 foi a menor de que se tem registro no país

Japoneses com menos de 40 anos de idade parecem estar perdendo o interesse nos relacionamentos convencionais. A mídia do Japão tem tratado o fenômeno como "síndrome do celibato".

Para o governo japonês, essa síndrome pode significar uma catástrofe iminente. O Japão já tem uma das menores taxas de natalidade do mundo, e a atual população de 126 milhões de pessoas --que vem diminuindo nos últimos dez anos-- pode ser reduzida em 30% até 2060, segundo projeções feitas no país.

Milhões de japoneses não estão sequer namorando, e o número de pessoas solteiras atingiu seu recorde. Uma pesquisa realizada em 2011 constatou que 61% dos homens e 49% das mulheres com idade entre 18 e 34 anos não mantinham qualquer tipo de relação romântica com outra pessoa. Outra pesquisa mostrou que um terço das pessoas com menos de 30 anos nunca havia tipo uma experiência amorosa --na vida
Já na União Européia, ano passado, Portugal registrou a mais baixa taxa de natalidade.

Impossível nesse texto não citar Corinne Maier em seu livro: 40 razões para não se ter filhos. Em seu prólogo afirma que quanto mais cresce a fertilidade menos as pessoas se declaram felizes. Abram os olhos, seus filhos serão fadados ao desemprego, a bicos precários ou desprezíveis, à condição de simples recurso humano.Terão uma vida menos divertida que estas que vocês têm – e olhe que ela já  não é tão engraçada assim.Não, os seus maravilhosos bebês não terão futuro algum, pois cada criança que nasce num país de primeiro mundo é um desastre ecológico para o planeta inteiro.E vocês vão pastar 20 anos para “criá-los.” Educação dos filhos se tornou um sacerdócio, já que a sociedade exige dos pais modernos performances dignas do super homem ou da mulher maravilha. Está sempre disponível, sorridente, atento, pedagógico e responsável- o que não se faz para garantir a “felicidade” e “plenitude” dos seus pirralhos? Tornar-se pai-mãe significa estar pronto ao sacrifício do todo restante. Vidas de casal, lazer, vida sexual, amigos e sucesso social, no caso das mulheres. .

Entretanto, minha opinião pessoal é que não existe nada melhor, sentimento algum, nada mesmo, que sobreponha ao êxtase do que chamamos de toque, pele a pele, coração a coração. É algo que vai além do sexo, que pode ser chamado de paixão ou amor. Não é saudável uma existência sem isso. E o sexo com outra pessoa é uma necessidade humana que produz uma sensação de bem estar, alegria que ajuda as pessoas a encarar melhor a vida em sua rotina diária. E um filho, contrariando tudo que se disse anteriormente, é importante sim, até um imperativo, para que nossa espécie continue a povoar a terra. Mas, para usar um termo bem atual: use com moderação.

Pensamento da Semana.

Quando olhamos nos olhos e vemos a alma, nada precisa ser dito. O amor é mudo. Quem ama, é feliz; não conta, não espalha, não grita aos quatro cantos muito menos faz declarações públicas. Quem ama e sabe ser amado, é feliz e satisfaz-se por ser. Mesmo porque felicidade nossa atraí inveja alheia. Pessoas que procuram demonstrar felicidade demais nunca me passaram confiança. Dizer e transparecer que a vida é uma festa, que nada existe de errado, que tudo está muito bem e assim vai continuar não me brilha os olhos. A vida tem altos e baixos, montanhas e planície, tristezas e alegrias. Para conhecer e saborear a segunda é preciso conhecer a primeira. Até para ter como comparar. Feliz não é quem grita mais alto, mas o que sorri com mais facilidade.

O autor é diretor clinico do Hospital Master Dei.

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