Publicado em Quinta, 28 de Maio de 2009 - 17h35
Por que vim para Rondônia !?, por Vinicios C. Martinez
Vinicios Martinez
Rondônia esteve presente em meu imaginário desde criança época em que um tio, médico, residente no Paraná, resolveu comprar terras públicas: depois, como vieram se foram. Por muitos anos significou a grande fronteira verde do Brasil: a entrada no interior do país que relembrava os Bandeirantes.
Hoje guardo menos este sentido, até mesmo porque o Estado se desenvolveu, tem cidades facilmente reconhecidas em todo o território nacional: Porto Velho, Vilhena, Ji-Paraná. Tem universidades públicas (UNIR) e particulares que o colocam no eixo do crescimento econômico e social, uma vez que, a pesquisa acadêmica também se alinha à indústria e aos agronegócios.
De algum tempo para cá, tornou-se um pólo atrativo para gente dos demais Estados da Federação: é o Estado mais brasileiro, mais miscigenado, diria Gilberto Freyre se fosse vivo. Este fator, aliado à sua própria posição geográfica, em breve, tornará o Estado um centro de referência não só regional: a célebre saída para o Pacífico, Hidrelétricas, Gasoduto, 150 prédios em construção, 14% de crescimento ao ano. Contudo, o crescimento econômico necessita de aliança com o desenvolvimento social e a sustentatibilidade da natureza, e é este esforço conjunto pela ecologia humana que tem atraído tantos outros. Como eu, muitos outros pensam que a ciência está em saber que a consciência se faz com paciência.
Já em estados como São Paulo, de onde provenho, em oposição e em pouco tempo, deu-se início a uma intensa guerra fiscal, iniciada primeiramente com o Estado do Paraná e, depois, invertendo-se o fluxo, dirigiu-se aos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Agora, já se espelha e espalha em/por Minas Gerais.
Assim, a ascendência Centro-Oeste e Norte já é uma realidade. Alguns visionários souberam perceber essa dinâmica 20, 30 anos atrás, outros, como este missivista, ficaram presos às raízes e circunstâncias pessoais e familiares. Todavia, como se diz, sempre é tempo!
O Estado de São Paulo não deixou de ser atrativo, especialmente o seu interior. Contudo, este mesmo efeito atrativo, positivo, promove hodiernamente o desejo oposto, provocando um certo efeito estufa.
A economia paulista cresce sim, mas muito mais para os já crescidos: a remuneração média do trabalhador pouco excede o salário mínimo. As universidades públicas estaduais estão estagnadas não se contratam novos professores e os mais antigos e experientes contam os dias para a aposentadoria.
As faculdades e universidades particulares, outrora verdadeiras minas de ouro, casa de Midas, hoje demitem sem qualquer critério avaliativo quanto à produtividade ou meritocracia, sua massa crítica titulada e formada a duras penas.
Nesta região que começo a chamar de nossa, porque minha casa é onde estou, de certo modo, vê o reflexo positivo da bolha de ar que sobe do sul. Nossas faculdades e universidades (ou centros universitários), públicas e privadas, de nível semelhante (notadamente do ponto de vista ético e profissional) estão amplamente instaladas onde antes estava depositado o reduto de clientela sulista.
Simplificadamente, estudantes das regiões Norte e Centro-Oeste não procuram mais, desesperadamente, o encantamento que provinha do Sul-Sudeste. Preferem investir no que um dia estará sob seu comando, pois será sua herança cultural e patrimonial.
Com vistas a isto, foi esta somatória de atratores que me levou a escolher este Estado para prestar concurso para docência em universidade pública: o seu espírito jovem e florescente, na economia e nas mentes - sua gente de cores e falas que revelam o Brasil por dentro.
São Paulo, ao invés de aproveitar sua enorme rede de profissionais qualificados às custas do erário público mestres e doutores , investe milhões (amanhã serão bilhões) em Ensino à Distância. Mas, se perguntar aos experts, poucos saberão distinguir ou argumentar sobre autoria e/ou letramento digital.
Enfim, minha principal intenção é colaborar na criação/estímulo de centros de pesquisa, ensino e extensão. Em São Paulo, atualmente, vive-se uma ficção da realidade que já se foi.
Espero com isto, verdadeiramente, sinceramente, ser claro em meus propósitos e no que puder colaborar.
Vinício C. Martinez
Doutor em Educação pela USP e professor da UNIR