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Agronegócio: protagonismo persistente

Terça-feira, 14 Junho de 2016 - 18:33 | Da Redacao


Por Coriolano Xavier *

Competitividade, ascensão, fôlego contra a crise e, mais do que tudo isso, uma espécie de fiador da economia.  Esse é o currículo do agronegócio nos últimos tempos. Em 2016, mais uma vez seu desempenho positivo deve se repetir, embora com menor força e, provavelmente, margens mais justas. É o que se consegue ver a partir da segunda estimativa do IBGE para a safra de grãos de 2016 -- e da projeção reavaliada do Valor Bruto da Produção (VBP) pelo MAPA.

Pelos últimos números, o VBP consolidado da pecuária e agricultura vai crescer 0,7% sobre 2015, atingindo R$ 515,2 bilhões em 2016. Um recorde, se for confirmado, decorrente das 20 principais lavouras (elevação de 2,8% em relação a 2015, alcançando R$ 338,6 bilhões), pois o composto das proteínas animais deve cair 3%, com um VBP de R$ 176,6 bilhões. E aqui já vemos o efeito da crise brasileira, que afetou o poder de compra da população e reduziu o consumo das famílias.

De acordo com o IBGE, a produção de grãos será de 211,3 milhões de t, 0,9% a mais que 2015. E mais uma vez a soja será o grande destaque em VBP (R$ 123 bilhões no total), com crescimento de 12,3% graças à desvalorização cambial e, também, a novos ganhos de produtividade: a previsão é de aumento de 4,9% na colheita da oleaginosa, para uma área plantada que avançou bem menos -- 2,7%.

No milho a história é parecida, com um crescimento de 3,7% no VBP, principalmente por obra do câmbio, que estimulou exportações e puxou o mercado interno para o mesmo alinhamento de preços, levando inclusive algum stress ao perfil de custos do setor animal, na produção de frangos, suínos, leite e confinamento bovino.

Apesar desse quadro positivo em meio à crise, os produtores precisam ficar ligados na rentabilidade. O boi, por exemplo, fornece um bom indício: em fevereiro passado o preço da arroba girava em torno de R$ 155,00 (ESALQ/BMF), que é um patamar historicamente elevado, mas em termos reais representava um valor 4% inferior ao preço de um ano atrás, por conta da inflação de 10,6% (IPCA).

Se bem que a pecuária brasileira passa por um momento virtuoso de modernização, com maior produtividade da terra (mais carne por ha) e maior produtividade do rebanho (mais qualidade e rendimento de carcaça). Tanto que as projeções indicam para os próximos 10 anos um crescimento do rebanho bovino de 0,25% ao ano em média, queda da área de pastagem à base de 1,20% ao ano e aumento da produção de carne em 1,52% ao ano – até 2025, segundo o Outlook Fiesp.

Fica também um sinal de atenção para os preços das commodities, que recuaram no mercado internacional, após longo período de bonança entre 2005 e 2014. O câmbio compensou essa queda dos preços em dólar e, mesmo com o aumento no custo dos insumos importados (fertilizantes e agroquímicos em particular), há um horizonte positivo para a agropecuária, no médio prazo. As margens podem até ficar apertadas; mas como diz um reputado economista, Ivan Wedekin, “lucro menor ainda é lucro”. Ainda bem.

(*) Vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM.

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