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Porto Velho e Vale do Jamari serão novos celeiros agrícolas, diz presidente da Faperon

Terça-feira, 12 Abril de 2016 - 14:17 | Da Redacao


Fonte: revista VISÃO RONDÔNIA. JÁ NAS BANCAS!

O pecuarista Hélio Dias de Souza já foi prefeito de Castanheiras e vereador em Rolim de Moura. Deixou a política e se dedica agora à agropecuária no interior do estado. Assumiu em agosto de 2015 a presidência da Federação da Agricultura e Pecuária de Rondônia (Faperon) e também acumula a presidência do Conselho Administrativo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Em entrevista à VISÃO, Hélio Dias, que se dedica hoje 24 horas na busca de solução para crise da carne bovina, acredita que os novos celeiros agrícolas de Rondônia serão Porto Velho e o Vale do Jamari. São onde está localizada boa parte das terras degradadas que serão reaproveitadas através do uso de tecnologia e aplicação correta de calcário e fertilizante. As vantagens dessa nova fronteira agrícola são a implantação das indústrias de calcário em Rondônia; a capacitação de mão de obra; máquinas modernas; o misturador de adubo em Comodoro (MT); e a curta distância entre os campos de soja e milho para os portos do governo e do grupo Amaggi. Só em frete, o produtor agrega cerca de R$ 5,00 à produção por carreta, segundo ele.

Levando em consideração que o agronegócio foi o único setor a crescer (1,5%) no Brasil, o que podemos esperar do setor produtivo em Rondônia?

O agronegócio em Rondônia tem uma tendência muito forte de crescimento. Digo isso em razão de alguns aspectos importantes. O estado possui as características necessárias com terras planas, áreas já abertas, as chuvas variam de 1.500 a 2000 milímetros e são bem distribuídas durante o ano, favorecendo o plantio de grãos. Rondônia é um estado que tinha muita dificuldade em relação a correção do solo. Nós tínhamos sérios problemas com fornecimento de calcário em quantidade apropriada e qualidade adequada. Hoje já dispomos de duas indústrias que fornecem o calcário, uma do grupo César Cassol e outra do governo do estado que garantem esse produto em quantidade necessária para o produtor e empresário rural, que vem de outras regiões para investir nas culturas de milho e soja, garantindo bons preços no mercado dessas commodities no exterior. Outro fator positivo para nossa agricultura é a aquisição de uma misturadora de adubos. Em Comodoro, a 100 quilômetros de Vilhena, a Amaggi está construindo uma misturadora com capacidade para 150 mil toneladas de adubo. Nós tivemos uma reunião com o vice-governador (Daniel Pereira), o secretário de Agricultura (Evandro Padovanni) e a direção do Grupo Amaggi colocando a nossa preocupação em implantar uma misturadora também em nossa região produtora. Essa indústria de Comodoro só vai atender o Mato Grosso.

O Grupo Amaggi está interessado em investir mais no estado, já que possui portos e compra boa parte da soja local?

A logística hoje está errada. Os caminhões levam a soja e voltam vazio. E vão vazios buscar o adubo no Mato Grosso, encarecendo o frete para o produtor. A misturadora tem que ser implantada em Porto Velho porque o produtor manda a soja e o caminhão volta com o adubo para a roça.  Nós tivemos a garantia da Amaggi de que o grupo vai instalar um misturador em Rondônia. Já está em fase de estudos a implantação dessa nova indústria com capacidade para 60 mil toneladas de adubo. O mercado de fertilizantes aqui é muito promissor e a Amaggi teme perder espaço para a concorrência.

Qual a economia para os produtores de grãos após a implantação do misturador em de adubo em Comodoro?

A maioria dos fertilizantes e adubos NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio- substâncias responsáveis pela formação, crescimento da parte verde das plantas, surgimento de flores e frutos e combate a pragas) vem do Rio Grande do Sul e Paraná, com custo de frete e o ICMS. Com a indústria em Comodoro, a tendência dos custos é reduzir até porque há tratativas entre o governo de Rondônia e o governo do Mato Grosso para eliminar as barreiras de ICMS entre os dois estados. Na minha opinião, em cima de insumos que geram riqueza não pode haver uma tributação elevada. Com a retirada, ou pelo menos a redução para 1.8% do ICMS, o produtor terá um adubo mais barato para o desenvolvimento da agricultura e formação de pastagens.

Além das técnicas para melhoramento do plantio com a utilização de calcário e fertilizantes, não foi preciso também conscientizar o produtor a reutilizar as áreas já abertas e não derrubar mais a floresta?

O próprio produtor viu que já havia aberto muitas áreas e que precisava de tecnologia para melhor aproveitamento de suas terras. É importante frisar que, a exemplo de toda fronteira agrícola, Rondônia foi puxada pelos produtores do Sul que já tinham uma certa tradição no cultivo de grãos. Hoje, o estado é visto com grande potencial, como foi o Mato Grosso no passado, mas a abertura para soja só aconteceu devido as tecnologias, uso de máquinas e fertilizantes. O PIB de Rondônia na exportação é 36% formado por grãos e 54% de carne. E é preciso destacar também o papel importante da Embrapa no desenvolvimento dessas tecnologias e da iniciativa privada e graças a esse conhecimento o produtor está assimilando a tecnologia, deixando a floresta preservada.

Quais são as técnicas de precisão no campo?

A agricultura de precisão é o que tem de melhor e mais inovador na agricultura comercial no Brasil. Ela já é adotada 100% no Mato Grosso e no Goiás. É o produtor conservar as áreas já abertas, principalmente aquelas em processo de degradação do solo, usando tecnologia apropriada. Nós chamamos de ABC (Agricultura de Baixo Carbono), onde são utilizadas técnicas para plantio direto ou a recuperação do solo com calcário, trazendo de volta aos níveis de fertilização adequada. O primeiro ano não é fácil porque é preciso nivelar o solo, corrigir, fazer gradagem e no segundo momento já se faz o plantio direto. E no terceiro momento utiliza-se a área para pastagem de verão criando de quatro a cinco vezes mais cabeças de gado do que anteriormente sem o uso dessas técnicas. São práticas que reduzem a aplicação do nitrogênio, um dos causadores de problemas ambientais. Você consegue ter rendimento, custo operacional menor, e no final das três operações, você tem uma lucratividade satisfatória. Ainda mais agora que a commodity da soja está em alta e a tendência é manter-se firme no mercado. Além disso, é preciso investir em capacitação porque dependemos de máquinas de última geração para aplicação do veneno, calcário e do plantio. Nós temos hoje máquinas operadas por computador, colheitadeiras de alto rendimento, todas automatizadas e com uso do GPS.  Hoje o produtor não tem coragem de colocar uma máquina de R$ 1 milhão na mão de um leigo. É nessa fase que entra o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), para capacitar a mão de obra e torná-la profissional para o campo.

A Embrapa e Seagri tem dito que Rondônia tem pelo menos 4,5 milhões de áreas degradadas. O que fazer para recuperar essas terras e expandir a agricultura?

Existe um trabalho muito forte da Embrapa para que possamos capacitar profissionais da área, inclusive da iniciativa privada, responsáveis por projetos junto aos órgãos oficiais para garantir recursos para recuperação dessas áreas. Sem dinheiro e sem técnica apropriada não se recupera nada.  A Embrapa tem sido uma grande parceira da Faperon para capacitar técnicos do setor público e privado para apresentarmos bons projetos em todo estado e recuperar e aplicar as tecnologias nessas grandes áreas em processo de degradação.

Em quais regiões expansão agrícola vai acontecer?

A grande Porto Velho e o Vale do Jamari, incluindo o município de Itapuã do Oeste, onde as terras são de menor fertilidade e que precisam de correção através do calcário e aplicação correta das tecnologias da agricultura de precisão. O produtor dessas áreas vai agregar ao seu produto até R$ 5,00 em função do frete já que essa região está próxima dos portos de escoação dos grãos. Sem dúvida, Porto Velho e o Vale do Jamari serão o futuro celeiro da agricultura em Rondônia.

E essa nova realidade podemos esperar para quantos anos?

Será rápido. Coisa de 10 anos, metade dessas áreas já estarão recuperadas e incorporadas à produção de soja e milho. O resto vem devagar, a reboque. A soja é uma commodity que puxa as fronteiras agrícolas. O Brasil hoje é maior fornecedor do grão e a China a maior compradora. E essa relação só tende a se fortalecer porque a população chinesa deve dobrar de tamanho. Esse é um mercado que só cresce.

Quanto à carne, o que está acontecendo entre produtor e as indústrias?

Em qualquer sistema comercial a relação tem que ser boa para os dois lados. O que está acontecendo é que há um desequilíbrio favorável à indústria e desfavorável ao produtor. E isso acontece pelo achatamento dos preços da arroba do boi gordo, afetando toda a cadeia produtiva, os grandes e médios. Nossos custos em razão da alta do dólar estão caríssimos e as indústrias estão lucrando até 70% mais na arroba com a venda dessa commodity para o exterior. Os frigoríficos, praticando o menor preço do Brasil, estão tirando o poder de investimento e de compra dos criadores. Então chega o momento que precisamos gritar porque não suportamos mais essa carga. Precisamos ter uma margem de 20% a 30% de lucro para que possamos cobrir o chamado Custo Operacional Total de Atividade e continuar no mercado. Mas, somos otimistas e esperamos que essa realidade venha mudar através do diálogo.

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