Ivonete Gomes
TCE fala em conluio e fraude; Breno Mendes reduz tudo a “erro não culposo”
Terça-feira, 17 Junho de 2025 - 11:16 | Ivonete Gomes

É preciso coragem para subir à tribuna e defender o indefensável. Mais ainda quando a máscara já caiu, quando as vísceras da administração municipal estão expostas e quando o Tribunal de Contas, sem meias-palavras, identifica “graves irregularidades” e “indícios consistentes de conluio” entre servidores da Prefeitura de Porto Velho e uma empresa contratada por mais de R$ 35 milhões. Mesmo assim, lá estava ele: o vereador Breno Mendes, líder do prefeito Léo Moraes na Câmara, tentando justificar o injustificável, agora dizendo que tudo não passou de um “erro não culposo”.
A mudança de tom é sintomática. Até poucos dias atrás, a narrativa oficial da gestão era de que as denúncias reveladas pelo Rondoniagora eram “fake news”. Breno, em performance que beirava a hostilidade, chegou a usar a tribuna, em outro episódio, para chamar de mentiroso o jornal que há décadas presta contas à sociedade, coisa que muitos políticos temem como o diabo foge da cruz.
Mas o Tribunal de Contas foi cristalino. Não há como suavizar o que está escrito na decisão do conselheiro Paulo Curi Neto: o contrato firmado com a Plator Engenharia foi direcionado; houve escolha do fornecedor antes do planejamento; os documentos técnicos foram produzidos após a adesão, apenas para “cumprir formalidades legais”; houve falhas graves na justificativa de preços, ausência de estudos técnicos sérios e uma clara violação ao princípio da segregação de funções.
Em outras palavras, o contrato nasceu viciado, foi moldado para uma empresa específica, e tudo indica que a licitação foi uma encenação para encobrir acordos de bastidores.
Diante disso, Breno Mendes tenta, agora, desdizer a si mesmo, não com humildade, mas com esperteza. O que era “mentira da imprensa” virou “erro administrativo”. E o que era um ataque à reputação jornalística virou silêncio conveniente, típico de quem esquece que o microfone da Câmara grava, e o povo escuta.
A crítica aqui vai além do conteúdo do discurso. Trata-se de refletir sobre a figura pública de Breno Mendes. O mesmo vereador que se autoproclamava “Fiscal do Povo”, que bajulava a gestão de Hildon Chaves até ser exonerado em meio a escândalos pessoais e administrativos, hoje exerce o papel de defensor de uma gestão alvo de uma avalanche de denúncias. Um verdadeiro salto triplo moral, de fiscal para cúmplice político.
O papel de líder do prefeito é legítimo e necessário dentro da estrutura do Legislativo. Mas ele tem limites. O líder representa o governo, não o encobre. Deve articular, esclarecer, mediar, não reescrever os fatos nem insultar a inteligência da população.
A política, dizia Ulysses Guimarães, “é feita de gestos”. E os gestos de Breno Mendes têm sido desastrosos. Defender um contrato apontado como viciado por um órgão técnico independente e ainda tentar silenciar a imprensa é um duplo desrespeito: ao erário e à democracia.
O que se espera de um parlamentar é que ele seja guardião da legalidade, e não garoto-propaganda de governos em apuros. Se errou, a gestão precisa admitir. Se houve dolo, deve-se apurar. Mas tentar reverter o enredo por conveniência política é zombar da verdade.
E quando o roteiro político começa a contradizer a própria realidade, o papel do jornalismo é mostrar, linha por linha, quem são os autores, os figurantes, e os que se vendem como protagonistas da moralidade, mas não passam de atores coadjuvantes de uma farsa.