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Ivonete Gomes

“Que o povo se exploda!” Com carinho, de Sofia Andrade para Justo Veríssimo

Segunda-feira, 14 Julho de 2025 - 21:47 | Ivonete Gomes


“Que o povo se exploda!” Com carinho, de Sofia Andrade para Justo Veríssimo

Era para ser uma reunião reservada, a portas fechadas. Mas como o destino adora uma ironia bem servida, vazou. Vazou o áudio, vazou o cinismo, vazou a hipocrisia e, com ela, o verniz que restava na relação entre o Executivo de Léo Moraes e sua base aliada na Câmara de Porto Velho. O diálogo escancarado entre vereadores e o secretário-geral de governo, Sérgio Paraguassu, parece saído diretamente de um roteiro criado pelo grande e saudoso humorista Chico Anísio. Mais precisamente, do repertório de Justo Veríssimo, personagem que 

bradava com escárnio: “Eu quero que o povo se exploda!”

Na versão porto-velhense, o bordão ganhou nova intérprete: a vereadora Sofia Andrade (PL), que sem a menor cerimônia pergunta:

“Quero saber como o povo vai pagar a conta.”

Não há aqui fingimento de ignorância. Sofia sabe exatamente quem paga, e ainda assim, aceita o jogo. Não cobra projetos prontos, nem estudos técnicos que justifiquem o novo pedido de empréstimo de R$ 180 milhões enviado por Léo Moraes à Câmara. Não questiona a ausência de resultados do empréstimo anterior, de R$ 300 milhões, aprovado no início da gestão sob a promessa de transformar a infraestrutura educacional da capital. Não. O que interessa mesmo é negociar.

Com elogios rasgados ao secretário Sérgio, a quem chama de “predileto”, Sofia deixa claro o espírito da coisa:

“Meu secretário, bato na sua porta todo dia... respeito o presidente Gedeão, respeito a Ellis, mas o voto de todo mundo tem valor. Querendo ou não, vamos apanhar igual menino ruim. Os Instagrans de todos estão fervendo...”

Como num balcão de feira, discute-se o preço do voto, o valor da moeda política, e claro, o termômetro das redes sociais. Nada de debate qualificado, nada de fiscalização. O Legislativo virou extensão do gabinete do Executivo, com vereadores mais preocupados com seus perfis no Instagram do que com a calamidade das escolas sem merenda, dos postos sem remédios e das ruas sem asfalto.

E como se não bastasse, o vereador Breno Mendes resolve entrar em cena com sua própria versão do “povo que se exploda”:

“Nem que deixe de limpar menos a cidade para atender as emendas impositivas.”

A fala surge como chantagem explícita ao prefeito: ou libera os 2% em emendas aprovados pela base da Câmara, e rejeitados pela equipe econômica por inviabilizar o orçamento, ou que se exploda a limpeza pública, a zeladoria urbana, a dignidade mínima do cidadão. O objetivo não é investir, é garantir espaço na partilha. Vale lembrar: Breno é líder do prefeito na Câmara.

Enquanto isso, Léo Moraes segue abrindo cargos comissionados, inflando a folha, reajustando gratificações a patamares que fariam corar até o Palácio Rio Madeira. Cria agências reguladoras, adere a atas de preços milionárias, substitui licitações por contratos emergenciais...tudo sem transparência, sem prestação de contas, sem vergonha.

E no teatro grotesco que se apresenta, a plateia (o povo) assiste estarrecida, mas sem voz. Porque, para esse grupo, a conta pode ser paga por quem nunca foi convidado à mesa.

O áudio vazou. A máscara caiu. E a certeza ficou: em Porto Velho, a política virou paródia. Trágica, disfarçada de comédia, e com o povo no papel de palhaço.

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