Ivonete Gomes
Da esperança à decepção: desabafo de ex-secretário expõe bastidores tóxicos da gestão Léo Moraes
Sábado, 12 Julho de 2025 - 08:45 | Ivonete Gomes

Quando Walter Nascimento foi alçado ao cargo de secretário-adjunto da Educação em Porto Velho, não faltaram expectativas, nem promessas. Ele, um militante entusiasmado da candidatura de Léo Moraes, não economizou críticas à gestão anterior e empenhou seu capital político e moral na defesa de um novo projeto para a Educação. Pois bem. Seis meses depois, sai pela porta dos fundos, exonerado por aquele a quem ajudou a eleger. E sai falando.
O desabafo público de Walter, feito após sua exoneração, não é apenas uma queixa de servidor ferido. É um manifesto dolorosamente realista de quem testemunhou, e tentou combater, o desmonte institucional que assola a Secretaria Municipal de Educação (Semed). Seu erro? Ter defendido pautas como o cumprimento da Lei do Piso do Magistério, o fim do ponto eletrônico (aquele velho fetiche da gestão que tenta parecer moderna) e a revisão da Portaria 360, que regulamenta a estrutura das escolas.
Walter não foi exonerado por incompetência. Foi dispensado por ousadia: ousou enfrentar o silêncio conivente da gestão e apontar, dentro do próprio sistema, que o problema nunca foi falta de dinheiro, mas de vontade política. Segundo ele, havia recursos suficientes desde janeiro para pagar o piso salarial e os retroativos aos profissionais da educação. A gestão anterior, aquela que a turma do Léo tanto criticou, deixou R$ 38 milhões em caixa.
Mas, no lugar de salário digno, a categoria recebeu marketing. E, como prêmio de consolação, um secretário-adjunto a menos.
Walter também tentou, em vão, implantar uma comissão para apurar casos de assédio dentro das escolas. O projeto, que deveria ser obrigação de qualquer administração minimamente responsável, foi enterrado , claro, por falta de interesse político. Afinal, por que mexer em vespeiro quando o silêncio preserva os conchavos?
Nas entrelinhas do desabafo, emerge a verdade que muitos servidores preferem não verbalizar: a Educação, tão usada em palanque, virou peça de reposição na engrenagem de poder de Léo Moraes. O Ipam, como Walter denuncia, transformou-se em cabide de empregos e moeda de troca eleitoral, comprometendo a sustentabilidade do instituto. Nada que os aliados da Câmara Municipal, muitos dos quais posam de defensores da categoria, tenham ousado questionar.
“Nós demos a vitória para o Léo. Agora é hora de tirar.”
A fala não é de Walter, mas de uma educadora, revoltada no grupo de WhatsApp Categoria Municipal da Educação. O grupo, antes espaço de mobilização e troca, tornou-se confessionário de decepções e frustrações. O clima é de traição. “Não se enganem. Educação não tira nem elege ninguém. Quem elege é o dinheiro”, escreveu outro servidor. O cinismo virou defesa. A apatia virou hábito.
Outros relatos falam de servidores desmotivados, cuidadores que perderam horas extras e viram o salário despencar para R$ 1.600, decepções com promessas que não viraram políticas públicas. As falas convergem para um ponto: a educação foi usada como trampolim eleitoral. E, uma vez passada a eleição, descartada como incômodo.
Enquanto a categoria amarga perdas, o prefeito se regozija no brilho das redes sociais. Mas nem toda performance é suficiente para maquiar o desgaste crescente dentro das bases que o sustentaram. “Esse prefeito gosta muito é de aparecer” - resume um dos comentários, convenhamos, poucas definições foram tão precisas.
Gestão em crise moral
Em meio às críticas, uma verdade ecoa: a educação municipal virou símbolo da farsa administrativa de Léo Moraes. A suposta gestão democrática se revelou autoritária com quem ousa discordar internamente. As decisões são tomadas de cima para baixo, a portas fechadas , inclusive a aprovação relâmpago de cargos no Ipam e Emdur, que somam mais de R$ 12 milhões por ano aos cofres públicos.
As denúncias de superfaturamento em licitações de merenda e desvios de recursos do Fundeb circulam entre os servidores, sem que os órgãos de controle atuem com o rigor esperado. A Controladoria-Geral da União e o Tribunal de Contas, chamados nominalmente por servidores no grupo, são instados a agir. Por enquanto, só o silêncio responde.
Conclusão: quem vai cobrar o prefeito?
A exoneração de Walter Nascimento expõe a essência do governo de Léo Moraes: uma máquina de autopromoção, cercada por lealdades frágeis e silêncios convenientes. É um governo que repele o contraditório, sufoca a crítica e pune quem ousa lembrar que educação se faz com respeito, investimento e diálogo, não com cortes, cabides e Instagram.
Ao fim, resta a pergunta que ecoa no grupo da categoria: quem vai cobrar o prefeito? Porque os servidores já entenderam: sem luta, sem mobilização, sem grito, a gestão seguirá tratando a educação como peso morto, e os educadores como figurantes descartáveis de uma peça que sempre teve protagonista único.