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Ivonete Gomes

Luana Rocha e a arte da autorridicularização como estratégia de poder

Sábado, 26 Julho de 2025 - 18:31 | Ivonete Gomes


Luana Rocha e a arte da autorridicularização como estratégia de poder

É mais notório do que público: Luana Rocha está empenhada em se reinventar. Ou, para usar um termo em voga nas rodas de marketing político, em "reposicionar sua marca". A primeira-dama do Estado de Rondônia, também secretária titular da Seas, não tem economizado sorrisos, tombos encenados, danças desajeitadas e desafinações vocais em vídeos cuidadosamente produzidos para as redes sociais. Tudo, claro, em nome da empatia.

Não há mal algum em buscar conexão com o eleitorado. O problema começa quando a tentativa de parecer “gente como a gente” escorrega para o terreno pantanoso da autoparódia, sem a menor consciência estética ou estratégica do ridículo. Luana aposta, ao que parece, na técnica da “humilhação redentora”, conceito clássico do storytelling em que o protagonista enfrenta uma situação vexatória antes de uma grande virada. A diferença é que, no roteiro da primeira-dama, a virada ainda não chegou, e a humilhação deixou de ser redentora para se tornar habitual.

A motivação por trás de tamanha performance midiática é, segundo a própria, uma revelação divina: Luana Rocha afirma que será deputada federal e que, pasmem, a profecia lhe garante mais de 100 mil votos. Para alcançar essa bênção eleitoral, porém, ela terá que contar não apenas com as hostes celestiais, mas com o apoio logístico e político de um marido em fim de mandato e, até agora, sem outro cargo garantido.

Marcos Rocha, por sua vez, parece crer que a Terra Santa é uma espécie de caixa de sugestões do céu, para onde se viaja sempre que a fé precisa ser reforçada ou o marketing político precisa de uma foto inspiradora. Afinal, se quiser disputar o Senado sem a máquina administrativa que tanto o impulsionou em 2022 , sob o comando de Sérgio Gonçalves no governo e Júnior Gonçalves no União Brasil, terá que contar com milagres mais sólidos que hashtags e romarias.

Mas voltemos à Luana.

Luana Rocha e a arte da autorridicularização como estratégia de poder

A tentativa de gerar empatia pelo constrangimento voluntário não é novidade no marketing digital. Chama-se “cringe controlado”: um tropeço proposital aqui, uma dança esquisita ali, tudo milimetricamente calculado para despertar no espectador aquele sorriso cúmplice do “nossa, eu também sou assim”. Trata-se de usar a vergonha como ponte, e não como abismo. O problema é que, para funcionar, a vergonha precisa ser verossímil, e o propósito, claro.

Quando O Boticário mostra alguém se borrando de perfume em um comercial, há um subtexto publicitário afiado: a busca pelo desejo. Quando Luana Rocha tropeça numa gravação e canta fora do tom, a mensagem parece ser apenas: “me vejam”. Não há produto, não há proposta, não há poesia. Apenas performance.

O risco dessa estratégia está justamente em sua ambiguidade: entre o “rir junto” e o “rir de”, há uma linha tênue que, uma vez cruzada, transforma o político em piada, e não no bom sentido. É o mesmo princípio que afundou figuras públicas que apostaram em danças, dancinhas e declarações bizarras na esperança de viralizar. A diferença entre carisma e caricatura, afinal, é a autenticidade.

Luana Rocha, ao que tudo indica, tenta encarnar a política “acessível”, a mulher do povo, a crente que ouve revelações. Mas há algo artificial em sua construção de persona. A simpatia excessiva soa forçada. Os vídeos têm mais cara de roteiro de assessoria do que de espontaneidade. E o eleitorado, apesar de tudo, não é bobo. Pode até rir hoje,  mas lembrará amanhã quem foi que confundiu estratégia com exposição.

A política exige sensibilidade, mas também sobriedade. Luana Rocha pode até ter recebido uma revelação divina. Mas o que salta aos olhos, por enquanto, é uma busca terrena, e um tanto desesperada, por relevância.

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