Ivonete Gomes
Cascalho na engrenagem: Justiça trava manobra da prefeitura e Léo surta
Quinta-feira, 01 Maio de 2025 - 14:05 | Ivonete Gomes

"Don’t shoot the messenger" – ou, em bom português, matar o mensageiro não muda a mensagem. A velha máxima serve perfeitamente para descrever o comportamento do prefeito Léo Moraes diante da decisão judicial que expôs um escândalo envolvendo a anulação de uma licitação milionária para fornecimento de cascalho em Porto Velho. Em vez de responder com seriedade às acusações, o prefeito partiu para o ataque – não contra os fatos, mas contra quem os revela.
A anulação do Pregão Eletrônico nº 018/2024, concluído na gestão anterior, foi atribuída a supostas “denúncias anônimas” e “vícios técnicos”. De forma unilateral e sem análise completa do processo, o superintendente municipal de licitações, Ian Barros, atabalhoadamente (ou não), decidiu cancelar a licitação.
No entanto, segundo decisão da juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública, o que há, de fato, são indícios de crime e de improbidade administrativa, com manobras para favorecer uma empresa inabilitada no certame anterior. A juíza foi taxativa: as alegações apresentadas pela atual gestão já haviam sido analisadas e rejeitadas judicialmente no processo nº 7047227-35.2024.8.22.0001.
A Justiça agiu com firmeza: revogou a anulação, determinou a notificação pessoal do prefeito Léo Moraes e encaminhou o caso ao Ministério Público para apuração cível e penal. O que seria motivo de vergonha e explicações por parte de qualquer gestor sério, tornou-se, nas mãos de Léo Moraes, combustível para mais uma rodada de ataques nas redes sociais.
Sem apresentar qualquer argumento jurídico, o prefeito apelou para o vitimismo e acusou os veículos de imprensa de espalharem "fake news", desdenhando da seriedade da decisão judicial. A crítica não ficou restrita à decisão — Léo Moraes entrou em postagens para atacar jornalistas, portais e comentaristas, como se pudesse, na base da gritaria, anular os próprios autos do processo.
O episódio do cascalho é mais uma peça no quebra-cabeça populista que Léo Moraes vem montando desde que assumiu a prefeitura. Em pouco mais de 100 dias, sua administração já acumula decisões centralizadoras, perseguições políticas e desmonte de estruturas técnicas, especialmente aquelas ligadas a servidores ou projetos da gestão anterior.
O prefeito parece seguir à risca os manuais do populismo: assume o papel de “salvador da pátria”, pinta os antecessores como inimigos do povo e transforma decisões técnicas em espetáculos midiáticos, com direito a vídeos carregando caixa de remédio, operando máquina, cortando fita de obra que não executou e, agora, chamando decisão judicial de “mentira”.
Assim como Hugo Chávez na Venezuela e outros líderes de estilo autoritário, Léo Moraes distorce os fatos para se apresentar como vítima de uma conspiração, quando na verdade é protagonista de ações que ferem os princípios da legalidade, impessoalidade e moralidade.
O que está em jogo aqui não é apenas uma licitação anulada. É o desrespeito sistemático ao processo legal, a substituição de critérios técnicos por decisões políticas e a tentativa de silenciar críticas com arrogância e desprezo pela verdade.
Mas como já ensinava o provérbio: matar o mensageiro não muda a mensagem. A Justiça falou. E o povo, cedo ou tarde, também vai falar — nas urnas ou nas ruas.