Ivonete Gomes
“Eu te disse, Léo Moraes”: Denúncias se confirmam, contratos caem e o cerco se fecha
Terça-feira, 01 Julho de 2025 - 11:24 | Ivonete Gomes

Mesmo com a tenra idade, o vereador Marcos Combate, aquele que se autointitula independente, numa Câmara municipal anestesiada pelo marketing de conveniência, vem, figurativamente, colocando o dedo em riste no rosto do prefeito Léo Moraes e, tal qual faz um irmão mais velho ao prever a queda inevitável, dizendo ao final dos malfeitos provados: Eu te disse. Não te disse?!
Na sessão desta terça-feira, Combate subiu o tom. Alertou o prefeito e sua trupe de que a Polícia Federal vai, mais cedo ou mais tarde, bater à porta de algumas secretarias, se é que já não estão só esperando o momento certo. Para quem vive imerso no algoritmo viciado da gestão Moraes, aquele que filtra críticas e impulsiona apenas o universo cor-de-rosa dos vídeos de TikTok, as falas do vereador podem soar como praga rogada, vendeta política ou, na visão quase delirante da secretária de Gastos Públicos (sim, ela mesma, Euma Tourinho, especialista em diagnósticos de dentes excessivamente brancos), algum surto coletivo.
Mas não é nada disso.
Longe de ser um “vidente”, Marcos Combate faz o básico: cumpre o dever de casa. Faz o que a maioria dos vereadores há muito abdicou. Ouve as denúncias, investiga, busca provas e, o mais incômodo de tudo, alerta o Executivo antes que o escândalo ganhe o noticiário.
Foi assim no caso da adesão da famigerada ata das lancheiras, com suspeitas robustas de superfaturamento. Combate ainda era da base aliada. A sinceridade lhe custou o exílio político e, claro, o já clássico recadinho de Léo Moraes:
“Uma oposiçãozinha faz até bem”, referindo-se ao vereador e, de quebra, aos setores da imprensa que insistem em tornar públicas as denúncias de malversação do dinheiro público.
Mas os fatos, como sempre, atropelam a arrogância institucionalizada da atual gestão.
Foi essa “oposiçãozinha”, aliada ao trabalho jornalístico incansável, que revelou a manobra escandalosa na adesão da ata milionária da empresa Plator Engenharia, aquela mesma operação que o Tribunal de Contas de Rondônia classificou como:
“repleta de graves irregularidades, indícios de conluio entre secretários e fraude deliberada no processo.”
Segundo o TCE, ficou evidenciado o “planejamento reverso”, ou seja, o fornecedor foi escolhido antes mesmo dos estudos técnicos obrigatórios. A gestão Léo Moraes atropelou as normas, assinou o Termo de Adesão antes da formalização dos documentos técnicos e, como se não bastasse, escondeu o nome da empresa Plator nos atos oficiais, mencionando apenas o consórcio, numa tentativa pouco sutil de escamotear o favorecimento.

As investigações também mostraram que, enquanto o processo licitatório convencional para aquisição de massa asfáltica se arrastava há meses sem conclusão, o atalho da ata de registro de preço foi trilhado em tempo recorde, com preços superiores ao mercado e claros indícios de direcionamento.
Por força da pressão da imprensa e dos alertas de parlamentares, o contrato de R$ 35 milhões com a Plator foi anulado. Mais uma vitória da verdade sobre o marketing oficial. Ironia do destino, o mesmo contrato que, dias antes, o líder do prefeito na Câmara, vereador Breno Mendes, aquele conhecido por trocar de lado conforme a conveniência, tentou reduzir a um simples erro não culposo, como se fraudes licitatórias fossem apenas lapsos de digitação.
E o cerco não para.
A imprensa já denunciou a adesão de atas milionárias no setor de alimentação escolar, contratos suspeitos na saúde, compra de equipamentos com sobrepreço e a farra de gratificações para apadrinhados, incluindo o irmão do prefeito, promovido a secretário sem qualquer qualificação, mas com benefícios que fariam inveja a servidores de carreira.
Enquanto isso, Porto Velho assiste perplexa à deterioração dos serviços básicos, ao sucateamento das estruturas públicas e ao retorno das velhas práticas de favorecimento e contratos escusos. Nos bastidores, o clima de desespero é visível. A cada denúncia que cai, a gestão tenta abafar com marketing, vídeos coloridos e ataques aos mensageiros.
Mas, como diria o próprio Marcos Combate, a realidade tem um jeito implacável de bater à porta, seja pela imprensa, pelos órgãos de controle ou, quem sabe, pela Polícia Federal, como ele mesmo vaticinou nesta terça-feira.
O que resta saber é: será que o prefeito Léo Moraes e seus secretários estão prontos para ouvir, dessa vez sem deboche, aquele incômodo “eu te disse, não te disse?” vindo das ruas, do plenário e, inevitavelmente, das páginas dos inquéritos?