Ivonete Gomes
De secretário investigado a ouvidor fiscal: o roteiro que só Léo Moraes explica
Terça-feira, 08 Julho de 2025 - 15:27 | Ivonete Gomes

A saída de Geraldo Sena do comando da Secretaria Municipal de Obras de Porto Velho não surpreende. Era apenas questão de tempo até que o desgaste provocado por sucessivos escândalos se tornasse insustentável. O que chama atenção, e gera perplexidade, é o novo destino dado por Léo Moraes: a Ouvidoria da Agência Reguladora, justamente em um momento em que o nome de Sena circula em decisões do Tribunal de Contas, denúncias ao Ministério Público e burburinhos cada vez mais altos nos corredores do poder.
Geraldo não foi afastado da gestão. Foi apenas deslocado de escândalo.
Titular da SEMOB desde os primeiros meses da nova administração, Geraldo Sena ganhou o cargo após atuar nos bastidores do CREA para impedir que a gestão anterior, de Hildon Chaves, inaugurasse a nova rodoviária. Um gesto travestido de rigor técnico, mas lido politicamente como moeda de troca. Rendeu a ele a cadeira de secretário, e, com ela, poder sobre contratos e obras que, hoje, estão na mira do Tribunal de Contas e de órgãos de controle.
Sob sua gestão, Porto Velho assistiu a um desfile de irregularidades: adesões apressadas e suspeitas a atas de registro de preços; manipulação de preços médios em processos de aquisição de massa asfáltica; retirada de cascalho de jazidas sem licenciamento, configurando usurpação. Técnicos apontaram, o TCE confirmou, o MP apura. Ainda assim, o prefeito resistiu até onde pôde.
Nos bastidores, o barulho era ensurdecedor. Burburinhos em corredores da Câmara e grupos de WhatsApp antecipavam o inevitável, sempre acompanhados dos famosos “tik tak” que precedem operações policiais. Dentro da Prefeitura, já não havia quem defendesse tecnicamente o secretário. Fora dela, o desgaste era institucional.
A exoneração, por mais tardia que seja, não é um gesto de ruptura. É apenas uma mudança de cenário. Geraldo Sena continua dentro da engrenagem da gestão, agora com acesso direto à Agência que deveria representar o controle, não o abrigo. Uma contradição gritante, que reforça o estilo de governar de Léo Moraes: não se premia a competência, se protege os aliados.
O discurso de renovação, transparência e eficiência, tão presente nas redes sociais do prefeito, vai se tornando insustentável frente à realidade dos bastidores. A exoneração de Geraldo Sena não corrige os erros da gestão, mas confirma que eles existem, e têm nome, sobrenome e endereço garantido dentro da estrutura pública.