Ivonete Gomes
O “Movimento Dois Oito” e o retorno do verdadeiro Léo Moraes
Sexta-feira, 16 Maio de 2025 - 17:43 | Ivonete Gomes

Circula nos bastidores da política porto-velhense um burburinho que começa a tomar corpo: o chamado “movimento dois oito”, alusão ao número de vereadores que estariam arrumando as malas para desembarcar da base aliada do prefeito Léo Moraes. A possível debandada reforçaria a ala que hoje já faz oposição explícita ao Executivo, liderada por Marcos Combate (AGIR) e Nilton Souza (PSDB). E, ao que tudo indica, o movimento está menos relacionado à ideologia e mais à sobrevivência política.
Há quem enxergue na revoada parlamentar uma estratégia inspirada no “The Art of the Deal”, a famigerada filosofia de negociação trumpista baseada em barganhas extremas, incertezas calculadas e ameaças veladas para forçar melhores posições na mesa do poder. Mas há também quem reconheça um cansaço real, fruto do desprestígio e da desarticulação que definem a atual gestão.
Vereadores que antes davam sustentação ao governo começam a se perguntar se vale a pena arriscar um futuro político por um prefeito que não entrega, nem obras próprias, nem respeito. Afinal, como construir uma candidatura à Assembleia Legislativa quando se está atrelado a um gestor que não convida aliados nem para ajudar a distribuir “brindes”?
É preciso dizer: não são apenas os vereadores que se sentem abandonados. O prefeito Léo Moraes parece ter entrado em um ciclo de vaidade, autoritarismo e isolamento que já contamina toda a administração. Prometeu diálogo, mas distribui grosserias. Falou em gestão técnica, mas centraliza decisões e sufoca secretários, com exceção do próprio irmão, alçado à chefia da Secretaria de Turismo e já em pré-campanha escancarada para deputado estadual.
Os relatos nos bastidores são unânimes: aliados ignorados, apoiadores de campanha tratados como peso morto e enviados ao SINE, palavras duras a quem ousa discordar e um gabinete cada vez mais fechado ao diálogo. A inteligência emocional que se exige de um gestor público parece ter passado longe do currículo do prefeito.
Mais grave ainda é a tentativa sistemática de apagar legados anteriores apenas para rebatizar programas e carimbar seu nome onde não trabalhou. A política pública vira peça de marketing pessoal, e adversário vira inimigo. Nesta semana, Léo promoveu um evento de entrega de tablets a centenas de servidores, fruto de emendas parlamentares, mas sequer teve a diplomacia institucional de convidar o deputado federal Maurício Carvalho, um dos responsáveis pelos recursos. Tampouco se espera que convide Mariana Carvalho quando for cortar a fita das Praças da Juventude, mesmo que o projeto tenha nascido de sua atuação legislativa.
É esse o retrato do verdadeiro Léo Moraes: vaidoso, centralizador, mimado. Um político que cresceu, mas manteve a mentalidade de menino ofendido. A máscara da campanha eleitoral, cuidadosamente construída para parecer democrática e agregadora, já não se sustenta diante da realidade de um governo pautado pelo personalismo, pelo desdém e pelo isolamento.
Resta saber por quanto tempo a base na Câmara vai aceitar ser coadjuvante em um governo onde só há espaço para uma estrela, e ela não brilha tanto quanto pensa.