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A qualidade da mentira de cada um

Sexta-feira, 13 Dezembro de 2013 - 15:35 | David Nogueira


A qualidade da mentira de cada um

A verdade, essa palavrinha reveladora, é um substantivo pouco presente na boca da maioria dos bípedes terráqueos. A esta altura das primaveras vividas, considero uma triste, melhor, patética constatação. Ainda assim, nobre Cara Pálida, antes de pensar em esculhambar os pobres espécimes tupiniquins, a ciência, importante alertá-los, já provou que tal atributo visita  quase todos, em todos os lugares de nossa aldeia global. Ora com mais intensidade, ora com menos força, a realidade é que a cara de pau, em alguns casos, jamais ouviu falar na expressão “há um limite”. E a qualidade da mentira se aprimorou muito, tipo padrão Fifa, com direito à certificação ISO 9171.



2.  Ok! Ok! ...

Que atire a primeira pedra quem não ousou, ao longo da vida, articular algumas mentiras providenciais. Lembro-me de episódios pitorescos de minha longínqua juventude. Certa vez, já com dezoito anos, meu pai flagrou-me fumando... pensa numa cena complicada! Eu estava de costas para ele, em frente de minha casa... o “velho” nunca ia até lá... mas foi! Quando sua sombra surgiu sobre mim, deixei cair a bituca de cigarro e segurei firme a fumaça... e agora?... Seu Davidão se aproximou, e perguntou se eu estava fumando... E eu, evidentemente, menti!!! Disse: - Claro que não, pai!!! E a fumaça saindo pela boca, nariz, olhos, orelhas. Eu sentia a fumaça saindo até de minha pele!! No instante seguinte, materializou-se uma estupenda mãozada em minha desprevenida orelha, daquelas bem encaixadas e de resultado estonteante!! Ele virou as costas e retornou para seus afazeres... não disse nada... apenas foi!!!

3.  Constrangimento e burrice


Muitas vezes, pego-me pensando sobre o que teria acontecido se eu tivesse dito a verdade! Quais os desdobramentos daquilo? Nunca saberei. O pior veio em seguida. Eu não apanhava de meus pais desde os 10 ou 11 anos (aquelas palmadinhas nas nádegas de enorme eficiência pedagógica, embora duramente questionada nos dias atuais). Foi um dramático e súbito reencontro com a tradicional educação lusitana. O capítulo seguinte era o de conversar com meu pai sobre minha “mesada semanal”...  Como abordá-lo diante dos fatos matinais?... Havia programação agendada e o dindim era necessário, vital, impensável não o ter naquele dia. Era um sábado, início da tarde, e os amigos já me aguardavam para sairmos e conquistarmos o mundo. Fui arrastando-me até ele disposto a ouvir horrores. Levei um esporro monumental... jurei que jamais voltaria a fumar e fui perdoado... naquele mesmo dia, com a mesada no bolso, comprei um maço de “SG” vermelho... fumei mais 5 anos. Parei cinco e retornei a fumar mais uns quinze, quando abandonei as doces baforadas definitivamente (eu acho)...

4.  Constatações, Ilusões e política

Será que isso me transforma num mentiroso contumaz? Eu acho, nos dias de hoje, que não deveria ter mentido para o meu pai... foi uma idiotice total!! Passei mais uns vinte anos de minha vida jogando fumaça para os pulmões achando o máximo. Cada cigarro aceso por minhas mãos, tornava-me um galã de cinema, um astro. Eu passava a pertencer a um mundo de glamour muito bem apresentado pelas propagandas. Eu fazia parte de algo. Que merda, né?!

Mas tudo isso veio a propósito da “mentira” e a consideração de seus respectivos pesos. Assim, fico observando o mundo da política e, nesse caso, a coisa complica. Generalizar sempre é um erro grave, mas há alguns casos emblemáticos.

5.  Expedito Júnior e a convicção da mentira


Peguemos como exemplo o nobre ex Senador Expedito Júnior. Quando observamos a convicção com que afirma ser pré -candidato, há que reconhecer: Júnior é um artista... um profissional. De forma habilidosa, tenta-se mudar o foco da discussão. Deixamos de valorizar o pano de fundo da lei que impede de um cidadão em ser candidato (fraude no processo eleitoral, compra de votos) para discutir se a pena termina dia A ou dia B... Há que reconhecer o talento do rapaz. O fato é que, com as regras atuais, sua candidatura dependeria de uma decisão judicial. Com a Mini Reforma Política, na mesa da presidente para ser sancionada, a possibilidade passou ao patamar zero. Mentiras à parte, Rondônia precisa refletir bem sobre o caminho a ser escolhido. De preferência, um que nos deixe longe das ações da PF, do MPF, do MPE... Na frente da urna eletrônica, ninguém tem o direito de mentir para si mesmo!!!

Qual a sua mentira?...

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